segunda-feira, março 26, 2007

MAL MENOR

Foi escolhido "O Grande Português". António de Oliveira Salazar ganhou com uma percentagem de votos que não deixa dúvidas. Claro que se trata de uma sondagem transformada num concurso, mas a escolha de 41% de um universo de pelo menos, 210.000 votantes, não deixa dúvidas: este voto é de protesto e de critica ao actual "estado da coisas" em Portugal.

No entanto, esta vitória de Salazar apresenta dois méritos: primeiro porque vem lembrar a alguns “caça-fascistas” que ultimamente populam por ai, que a nossa história em geral e o salazarismo em particular, deve ser tratado com respeito e isenção; segundo, porque a vitória de Salazar é a derrota de Cunhal (2º lugar é o primeiro dos últimos) e todo Mal que este representa(va). Para aqueles que não se lembram como funcionava a ideologia marxista-leninista nos países pertencentes à extinta URSS, sobram ainda no mundo actual os exemplos de Cuba, China e Coreia do Norte.

Pessoalmente, se tivesse votado elegeria ou D. Afonso Henriques ou D. João II, mas atendendo às circunstâncias em que decorreu o concurso, a vitória de Salazar é um mal menor. Ficava sim envorgonhado como português, se o vencedor fosse o Cunhal com toda a simbologia que isso representava!

11 comentários:

ILCO disse...

é incrível agora o Cunhal é que era o Mau (!!!!!)

L Parreira disse...

Sei o valor que atribuis à coerência e por isso tenho de te dar os parabéns por este post. Consegue ser coerente com uma parte do que tens escrito neste blog.
Várias vezes te ouvi criticar a democracia por muitos dos que votam não estarem habilitados a fazê-lo, admiro a humildade dessa afirmação, pois certamente pensavas nos 41% que votaram e Salazar e em ti próprio. Aliás, em mais uma prova de coerência, já aqui várias vezes referiste o facto de optares pela abstenção.
Quanto ao tratamento com isenção do Estado Novo, não percebi a que te referias. Seriam as perseguições políticas, as prisões, torturas e assassinatos? Seria a censura? O Portugal fechado para o Mundo? A ideia dos Portugueses pobres mas honrados e felizes, com Futebol, Fátima e Fado, bem como o vinho, que dava de comer a um milhão de portugueses? Talvez fales da defesa dos monopólios, que permitiam que meia dúzia de famílias acumulassem riquezas imensas, enquanto a maioria da população vivia na miséria. Ou talvez na manutenção de um regime colonial que oprimia a natural vontade de independência dos povos africanos. Não sei a que te referias, mas tenho de concordar contigo, é bom que se trate com isenção este período, para que as pessoas percebam que foi, de facto, um momento negro na nossa história. Talvez este concurso tenha esse mérito, levar a que as pessoas se informem um pouco mais sobre o que foi o Estado Novo.
Neste post, mais uma vez, criticas o regime chinês. Nisso estou totalmente de acordo contigo (acho que podemos concordar em alguma coisa!), é difícil defender um regime ditatorial, que promove a censura, que persegue os que a ele se opõem, que desrespeita as liberdades individuais. No entanto, aqui não fazes uso da tua famosa coerência, pois estas eram também as características do Estado Novo, com algumas diferenças, as contas do estado chinês estão bem mais equilibradas que estavam as de Salazar e o crescimento económico chinês é também mais elevado.
Quanto ao facto do segundo ser o primeiro dos últimos, acho que é uma frase que nem merece comentários! Mas tenho de concordar que Álvaro Cunhal, com todas as muitas qualidades que tinha, não merece de forma alguma estar neste lugar. Aliás, acho que só um político português do século XX mereceria estar nos primeiros lugares, falo claro de Mário Soares, que soube no tempo certo opôr-se à ditadura de Salazar, mas soube também lutar contra a vontade do Partido Comunista de instaurar um regime ditatorial no pós-25 de Abril. Ele foi também um dos elementos importantes para a concretização de um momento importante na nossa história recente, a entrada na então designada Comunidade Económica Europeia. Não tenho dúvidas que Mário Soares acabou por ser "prejudicado" pelo facto de estar ainda vivo.

Anónimo disse...

Finalmente acabou o concurso que deu tanto que falar.
Ganhou Salazar e fiquei satisfeita.
Também já era de esperar!
Que a classificação foi um grande massacre, lá isso foi:
ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR - 41%

ÁLVARO CUNHAL - 19,1%

ARISTIDES DE SOUSA MENDES - 13%

Agora, depois de ter terminado o concurso estarmos a assistir a um mau perder com tanta azia (tomem "ENO"), nos comentários em vários orgãos de comunicação, é demais!
Não há pachorra para ler tanta cretinice e falta de cultura e educação.
Só mesmo em Portugal, pois noutros países que também fizeram este concurso, nada disto aconteceu.
Para terminar , não resisto a citar uma frase de "SALAZAR":

«Pois é preciso que gritemos tão alto a verdade, que demos tal relevo à verdade que os surdos a ouçam e os próprios cegos a vejam».

L Parreira disse...

Salazar esse grande paladino da verdade.
Mas é claro que há uns mal-intencionados, provavelmente comunistas, que inventaram que no tempo do Estado Novo havia a Censura, ou o Exame Prévio, que servia para impedir que os portugueses soubessem as verdades que não interessavam.
Quanto aos comentários na Comunicação Social é de facto uma chatice, aparecem pessoas a exprimir as suas opiniões, e até apresentam argumentos lógicos. Que falta fazia agora a censura, ou uma Polícia do Estado, para lembrar aos senhores jornalistas o que eles devem dizer.
Quanto à falta de cultura e educação, nada disto acontecia no tempo de Salazar, em que todos decoravam os seus livros da 1ª, 2ª, 3ª e 4ª classe, e eram pessoas muito cultas, que até sabiam os nomes dos rios e dos reis de Portugal. Nada como o actual estado da educação portuguesa, em que há professores que, imagine-se, estimulam os alunos a pensar e a desenvolver um espirito crítico, em vez de decorar a matéria. Veja-se a vegonha que agora os alunos nem sequer conseguem recitar a lista de preposições da língua portuguesa.

Nuno Neves disse...

Caro L Parreira

O tema “Salazar” já não é novo nas nossas discussões, pelo que peço desculpa se me repetir nos argumentos. Quando falo em “isenção” relativamente a um período da nossa história, refiro-me em se discutir o que se fez de “mal” mas também falar do que se fez “bem”. E é aqui que “a porca torce o rabo”. Curiosamente no que respeita ao período do Estado Novo, há sempre um desequilibrar da balança para o lado do “mal”. Falam-se das “perseguições políticas, as prisões, torturas e assassinatos” (como eu gostava de ver os números), dos portugueses pobres, analfabetos e esfomeados ou do regime colonial impiedoso. E está tudo falado. Devo acrescentar que é muito pouco e muito redutor. É contra esta visão curta e selectiva da nossa história que eu me manifesto.

Não vejo ninguém falar sobre o Portugal do Estado Novo (1926-finais de 1960), com todos os seus vícios e defeitos, que herdou um país verdadeiramente pobre e analfabeto, onde os governos não tinham qualquer estabilidade e sucediam-se; que herdou uma moeda corrente (o saudoso Escudo) que nada tinha qualquer valor, que foi muitas vezes substituída por “cédulas” impressas pelas Câmaras Municipais, que serviam inclusive para pagar os ordenados aos funcionários; que herdou a maior costa da Europa mas sem quaisquer portos ou navios de pesca; que herdou uma inexistente politica para a educação, para a saúde, para a justiça, etc, etc.

Não vejo ninguém falar sobre o Portugal do Estado Novo (1926-finais de 1960), com todos os seus vícios e defeitos, que transformou o Escudo numa das moedas mais fortes do Mundo, que aumentou substancialmente as nossas reservas de ouro, que elaborava orçamentos públicos equilibrados, que realizou um vasto programa de obras públicas, de construção ou renovação de escolas e hospitais, que procedeu à remodelação e construção de estradas e pontes, no qual se inclui a "sobre o Tejo", de portos e aeroportos, incluindo o actual de Lisboa, de barragens e equipamentos e aqui incluo o Estádio Nacional, passando pela recuperação de monumentos nacionais, etc.

Não vejo ninguém falar sobre o Portugal do Estado Novo (1926-finais de 1960), com todos os seus vícios e defeitos, onde não havia mendigos a pedir nos transportes, “moedinhas” a arrumar carros, insegurança nas ruas, onde se deu inicio a uma campanha contra o analfabetismo, com o fomento do ensino em todos os seus níveis, com criação do ensino técnico-profissional, nas escolas comerciais e industriais e agrícolas.

Não vejo ninguém falar sobre o Portugal do Estado Novo (1926-finais de 1960), com todos os seus vícios e defeitos, onde se revelaram grandes nomes da nossa cultura, seja das artes, letras ou das ciências e do desporto, onde o nome de Portugal foi elevado através da Exposição do Mundo Português, onde a nossa cultura popular renasceu, quer sobre a forma do artesanato ou dos grupos folclóricos.

Nunca é demais referir que todas estas politicas foram feitas sem recurso a subsídios ou fundos comunitários.

Não vejo ninguém falar sobre o Portugal do Estado Novo (1926-finais de 1960), com todos os seus vícios e defeitos, que no que se refere a Angola e Moçambique, assumiu a defesa dos interesses nacionais e dos portugueses que lá viviam e trabalharam no desenvolvimento e no progresso desses países. Com a “natural vontade de independência dos povos africanos” vieram trinta anos de guerras civis que tanta morte causaram e que tiveram como consequência transformar Moçambique num dos países mais pobres do Mundo, fortemente dependente da ajuda exterior e de Angola ser actualmente um dos países mais corruptos do Mundo, pergunto se Portugal e os portugueses estão de consciência aliviada pelo facto de terem reconhecido “aos povos africanos a soberania sobre a sua terra”? (repito aqui um argumento já utilizado mas que considero ser válido e para o qual ainda não obtive qualquer replica).

Não posso é deixar de falar é sobre o uso que fazes, mais uma vez, dos teus modelos comparativos. Desta vez comparas o crescimento económico de uma China no século XXI com o crescimento económico de um Portugal de 1926-finais de 1960, para concluíres que a politica do regime ditatorial português falhou.

Bem, mais uma vez é um ponto de vista falacioso, porque os modelos não são comparáveis. Mas fazendo-te a vontade, se fossem, gostava de te revelar que o famoso segredo do crescimento económico chinês assenta na exploração de mão-de-obra escrava e/ou mal paga, no elevado número de hora de trabalho diárias, na ausência de politicas sociais de protecção do trabalhador. Nada mais que isto. Curiosamente, no tempo do Estado Novo, deu-se início ao pagamento de salários mínimos, à existência de horários de trabalho, ao direito ao abono de família e à assistência médica.

Qualquer coincidência entre os modelos é pura ficção não achas?

Agora numa coisa concordo contigo, talvez este concurso tenha o mérito de levar a que as pessoas se informem um pouco mais sobre o que foi o Estado Novo. Espero é que seja sem uma opinião previamente formada e de forma descomplexada.

Quanto à questão de Mário Soares, bem muito haveria aqui para dizer, mas ficará certamente para outra ocasião.

Fica bem!

L Parreira disse...

Perseguições políticas, prisões, assassinatos. Portugueses pobres e analfabetos. Regime colonial impedioso. Isto é muito pouco???
Acho está na altura de pensares o que é importante para ti.
O que é isso de o escudo ser uma das moedas mais fortes do mundo? Como medes isso? Este é um conceito que gostava mesmo que explicasses.
Quanto ao regime ditatorial português, não acho que ele tenha falhado por causa de crescer menos do que a China, se tivessemos crescido 20% ao ano, não deixaria de ser uma ditadura, e condenável por isso. Só disse que as coisas que podem ser criticadas no regime chinês não eram tão diferentes no Portugal do Estado Novo, mas pelos vistos falta-te a "isenção" para ver isso.

Nuno Neves disse...

Caro L Parreira

A tua leitura parcial das coisas deturpa-te o raciocínio. Primeiro, porque não emiti qualquer juízo de valor, ou seja, não escrevi nem que Salazar era um salvador nem que era um tirano. Depois, também não escrevi que “perseguições políticas, prisões, assassinatos. Portugueses pobres e analfabetos. Regime colonial impedioso” era muito pouco ou que achava bem. Escrevi sim que acho redutor concluir sobre parte da nossa história analisando apenas uma das “faces da moeda”.

Mas também não deixo de questionar que raio de regime ditatorial e opressivo foi este onde todos aqueles que ostentavam orgulhosamente na testa o epíteto de lutador antifascista ainda hoje circulam por ai a respirar o mesmo ar que eu? Ao menos os chineses são mais eficientes com os seus contestatários!

E até porque a História parece-me deturpada, reafirmo que gostava de conhecer os teus números de assassinatos durante a vigência do Estado Novo. Terão desaparecido 100 portugueses, 1000 ou um milhão? Bem pelo menos aos mais conhecidos antifascistas não lhes aconteceu nada de grave.

Quanto ao Portugal pobre e analfabeto, não encontro diferenças para o Portugal de agora. E apenas tenho a lamentar que assim seja.

Quanto ao regime colonial, longe de o considerar impiedoso, mantenho a mesma posição e remeto para o que escrevi anteriormente.

E sabes o que é importante para mim nesta questão? É a análise critica justa depois de observados devidamente os prós e os contras.

Fica bem!

L Parreira disse...

"È muito pouco e muito redutor" - achas então que não escreveste que era muito pouco? Vê quem tem o raciocínio deturpado que não consegiui encontrar o "muito pouco".

Quanto aos assassinatos da PIDE. Achas que o regime foi pouco opressivo, porque para além de prender e torturar milhares, limitou-se a assassinar umas centenas.

Quanto aos mais conhecidos antifascistas vou citar dois nomes: Humberto Delgado e o pintor/escultor Dias Coelho. Não sabes quem foram? Não sabes quem os matou? E tens por acaso uma ideia de quantos morreram no Tarrafal? E a morte é a única coisa que um estado repressivo pode fazer? Sabes quantos anos teve Álvaro Cunhal preso? Sabes qual era a acusação?

Se não encontras diferença do Portugal pobre e analfabeto para agora, pergunta a alguém com mais de 60 anos qual era a percentagem de pessoas que sabia ler no seu tempo, como era a sua vida, a que idade as pessoas começavam a trabalhar, as horas que um trabalhador rural trabalhava por dia e qual o salário. Dizeres que não encontras diferenças demonstra que sabes muito pouco sobre o que era a vida no Estado Novo. Até ver os filmes oficiais do regime te podiam ajudar a compreender um pouco do que era o Portugal de Salazar.

Por último, estava à espera que me explicasses essa história do Escudo no tempo de Salazer ser uma das moedas mais fortes do mundo. Talvez escrevas um post a explicares aos que, como eu, têm a visão deturpada, como chegaste a essa conclusão.

L Parreira disse...

Esqueci-me de uma coisa na comparação entre a opressão chinesa e a do Estado Novo.

Sabes qual era população de Portugal no tempo de Salazar? Sabes qual é a população da China? Para ter o mesmo efeito em termos proporcionais os chineses teriam assassinado pelo menos 100.000 e preso e torturado uns milhões. Nem estou a dizer que não o fizeram, só espero que um auditor com tanta experiência como tu não negligencie o tamanho da população quando efectuares uma análise de repressão de regimes.

Nuno Neves disse...

Caro L Parreira

A tua critica a frases truncadas e retiradas do seu contexto apenas transformam esta troca de palavras num diálogo de surdos.

Relativamente ao regime opressivo português e não o chinês, já aqui solicitei números concretos e não em abstracto, mas seja como for também nunca escrevi que concordava ou aceitava essa forma de actuação por parte da polícia politica.

Quanto às diferenças do “Portugal pobre e analfabeto para agora” pergunto-te a ti a qual é a escolaridade média das pessoas do interior norte e centro do país, a que horas entram para as fábricas e qual o seu salário? E se não encontras diferenças demonstras que sabes muito pouco sobre o que é a vida no Portugal de hoje.

Quanto à “história do Escudo” não está esquecido e fica aqui prometida em jeito de “post” uma lição de história assim que tiver tempo disponível.

Fica bem!

L Parreira disse...

A tua frase não faz sentido, eu digo precisamente que encontro diferenças, talvez quisesses dizer "se encontras dferenças".

Portugal continua a ser um país com situações de miséria, infelizmente por todo o país, e não só no Interior Norte e Centro. A situação é no entanto claramente diferente do que era há 40/50 anos atrás. Portugal era para todos os efeitos um país do 3º mundo: uma grande parte das pessoas não iam à escola, dos que iam a maioria não passava da 4ª classe, os salários eram miseráveis, mesmo se pagos "numa das moedas mais fortes do mundo"! Quando comparado com a ditadura da União Soviética, a situação em Portugal, especialmente em termos de cultura e educação era muito pior. Portugal era, provavelmente, o país europeu com a maior taxa de analfabetismo, e não falo do analfabetismo funcional de que se fala agora, mas sim do facto de uma elevada percentagem da população há duas gerações atrás não conseguir ler ou escrever uma simples carta.

Espero que a tua capacidade de argumentação melhore bastante, quando te disponibilizares a partilhar com os teus leitores a "lição" sobre o escudo ser uma das moedas mais fortes do mundo e, já agora, se posso pedir mais uma coisa, em que medida era isso importante para Portugal e para os portugueses.