sexta-feira, dezembro 29, 2006

O BENEPLÁCITO


Há pequenas medidas que quando decididas por políticos trazem grande benefício a muita gente. Por serem pequenas medidas, são fáceis de decidir, mas por razões que a própria razão desconhece, nunca ninguém as decidiu. Durante anos os bancos roubaram os seus clientes, quer seja através de arredondamentos inexplicáveis, quer seja através de penalizações absurdas, sempre com o beneplácito do Banco de Portugal, compadrio de políticos e de sucessivos governos. Finalmente alguém colocou um travão na pouca-vergonha. As recentes decisões do actual governo só pecam por tardias. Agora, finalmente, alguém decidiu e bem. E todos aplaudem a justeza das medidas, mesmo aqueles que em seu tempo podiam ter decidido e nada fizeram. Convenhamos que ser político é pior do que ser banqueiro!

(a fotografia que reproduzo em cima e que não podia ser mais ilustrativa do que acabei de escrever foi gentilmente “roubada” do Jumento)

1 comentário:

Nuno Neves disse...

Caro LP

Continuo um liberal e um defensor de uma reduzida intervenção do Estado na Economia, porém também defendo que o Estado deve ter uma função reguladora, intervindo sempre que verifique a existência de desequilíbrios.

Neste sentido, poderia começar aqui a teorizar sobre a (falta de) poder negocial do consumidor médio português perante o cartel que constitui a banca portuguesa (cinco bancos dominam 80% do mercado) e sobre a (in)existência concorrência séria entre os bancos portugueses, mas aqui a questão central são as politicas transversais comuns a todos eles, que se traduzem, sem forma do consumidor conseguir evitar, em autênticos roubos, até porque não consigo encontrar melhor palavra.

Qual é o sentido de um arredondamento por excesso de uma taxa de crédito, cujo referencial já tem subjacente uma forma de cálculo perfeitamente definida?

Como se justifica as diferentes formas de cálculo de juros, sempre com prejuízo do consumidor, conforme se trata de empréstimos ou depósitos?

Como pode existir um pleno mercado de concorrência, quando o consumidor é fortemente penalizado, sendo-lhe retirado toda a vantagem, se decidir trocar de banco?

Concordamos em que a existência de politicas lesivas dos consumidores num mercado dito concorrencial é um contra-senso, e tal só acontece quando o mercado está viciado, o que é o caso. Não há negociação, mas sim imposição, até porque quando uma das partes detém maior poder negocial que a outra, nunca poderemos afirmar que um acordo foi livremente assinado. Podemos dizer é que não existem outras alternativas e quando isso acontece cabe ao regulador intervir e criar condições. Foi que aconteceu.

Assim, a recente intervenção do Governo nesta matéria, repito, só pecou mesmo por tardia.