terça-feira, agosto 31, 2004

POLITICA DA AVESTRUZ

Findos os Jogos e conforme tinha prometido, aqui ficam as minhas impressões sobre a nossa aventura em Atenas’2004:

O Comandante Vicente de Moura, Presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), consegue demonstrar através de contabilidades, que a participação portuguesa nos Jogos de Atenas foi a melhor de sempre! Curioso, se atendermos ao fracasso desportivo (considero um êxito desportivo ficar classificado nos primeiros oito lugares) de cerca de 85% dos nossos atletas e de que Portugal em Jogos anteriores ter ganho medalhas de ouro! A política deste responsável é, mais uma vez, “a politica da avestruz”. Não reconhe os erros cometidos com as más apostas feitas, ignora os falhanços olímpicos da selecção de futebol, da equipa de natação, dos atletas Nuno Delgado, Maia/Brenha, Fernanda Ribeiro, Naide Gomes, Carla Sacramento, Susana Feitor, José Couto ou Teresa Machado, para citar os nomes mais conhecidos da nossa delegação e agarra-se ás medalhas conquistadas e a meia dúzia de boas prestações para salvar a face. Agarra-se à medalha de Sergio Paulinho, esquecendo-se de referir que o COP andava a ponderar a possibilidade do ciclismo deixar de representar Portugal nos Jogos por 'falta de resultados'. A medalha foi uma bofetada naqueles responsáveis que no momento do pódio do nosso campeão se encontravam na praia a assistir a um jogo de voleibol; agarra-se à medalha de Francis Obikwelu esquecendo-se de referir que o atleta ponderou abandonar a modalidade e só o apoio de uma treinadora espanhola, que implicou mesmo a mudança de residência para Madrid, permitiu a obtenção dos excelentes resultados verificados; agarra-se à medalha de Rui Silva esquecendo-se de comentar as criticas que o atleta deixou no ar após a conclusão da prova e que, infelizmente para o desporto português, não foram concretizadas.

O senhor comandante considera que a participação foi um sucesso. Eu penso de maneira contrária. Considero que as medalhas obtidas foram o fruto do trabalho individual de três atletas que não chegam para tapar um má participação, reflexo talvez da incompetência do COP, de guerra de interesses nas várias modalidades, de uma má planificação desportiva e da gritante falta de condições para os nossos atletas. Não é chegada a hora de uma limpeza neste COP, porque de contabilidades criativas já estamos nós cheios? E para quando um investimento forte em jovens atletas ambiciosos com margem de progressão, tais como Vanessa Fernandes, Emanuel Silva ou Nuno Merino, de forma a evitar um novo caso ‘Bruno Mascarenhas’ – medalha de bronze pela Itália -, em detrimento daqueles 'turistas' cujos objectivos passam unicamente em cumprir o ‘sonho olímpico’, ou seja, simplesmente participarem sem quaisquer ambições de ganhar, até porque consideram que 'o trabalho está feito' com a obtenção dos mínimos olímpicos. Para quando uma politica desportiva assente na qualidade em vez da quantidade ?

Custa-me que o dinheiro destinado ao programa olímpico, proveniente dos cofres do Estado, para o qual eu contribuo principescamente com os meus impostos, encontre-se a ser mal gerido, servindo para pagar sonhos em vez de títulos, ‘tachos’ em vez de medalhas. A título de exemplo, dos dezaseis atletas de atletismo que recebem bolsas olimpicas, só três obtiveram resultados dignos de registo.

Espero que se tirem boas ilações desta nossa participação e com pessoas capazes se promova um programa ambicioso para os próximos Jogos Olímpicos em que Portugal se faça representar. Digo isto, porque há valores mais altos que se elevam, e um boicote desportivo aos JO de Pequim de 2008 era a melhor resposta que os países ditos civilizados e democráticos, entre os quais enquadro Portugal, poderiam dar à mais que absurda atribuição da organização dos Jogos Olímpicos à China. Contra a violação sistemática de direitos humanos. Contra a ocupação militar ilegal do Tibete. Contra as ‘politicas da avestruz’ do nosso Mundo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Vicente de Moura não é corrupto????