quinta-feira, agosto 07, 2003

Crónica de um pai: dia 1

Dia 1. O dia começou bem, a mãe deu-lhe de mamar às 8.15 AM e foi para o emprego, ele adormeceu novamente. Eu também. Marcava o relógio 11.30 AM, quando realmente começou esta minha aventura. Preciso como um relógio suíço, acordou exactamente à hora em que acorda todos os dias. Rotina subsequente: pegar nele e coloca-lo no colchão de actividades, juntamente com os seus brinquedos. Com a idade dele, a brincadeira consiste em pegar nos bonecos e nas rocas e leva-las à boca, mas assim fica entretido por uma hora, o tempo suficiente para eu tomar banho, arranjar-me e começar a preparar a papa para lhe dar. São 150 ml de água mais umas quatro ou cinco colheres de farinha. Hoje optei pela “Nutribén” - o sabor desta papa até que nem é mau. Começa então a hora mais difícil do dia. Dar-lhe de comer. Pelo que a mãe me têm contado nos outros dias, desconfio que o puto não gosta nada de papas, mas não pode ficar sem comer. Fui busca-lo ao quarto, trouxe-o para a cozinha e coloquei-o na sua cadeira. Parece um rei no seu trono. O petiz, tal como o pai, anda em tronco nu. Este calor obriga! Babete posto e marca o relógio 12.35 PM. Para grande surpresa minha, as primeiras colheres até correram muito bem, e eu ainda não utilizei nenhum dos meus truques para ele abrir a boca. A meio da refeição, o caso começa a mudar de figura. Finta para a esquerda, finta para direita, esquiva-se à colher. Este puto ainda vai ser jogador da bola! A papa começa então a espalhar-se pelo seu corpo e pelo meu. É mãos, é tronco e a cadeira. A cara dele está completamente pintada. Pausa para limpezas. Recomeço, com o truque n.º 1: a chupeta. Sempre que abre a boca para apanha-la dou-lhe uma colher de papa mais a chupeta. Isto funciona para umas 5,6 colheradas. Depois apercebe-se que anda a ser enganado. Já não quer a chupeta. Sai então da manga o truque n.º 2. Pego num boneco dele e ponho-me a brincar com ele. Ele divertido, vai abrindo a boca, e lá entram mais umas 5 colheres de papa. Já são 13.05 PM e o prato começa a ficar vazio. São 13.15 PM dou por terminada a refeição. Estou surpreendido, ao contrário do meu pessimismo, a hora da refeição até correu bem. No prato pouco resta de papa e o desperdício até não foi muito. Comeu bem, face às expectativas.

Dou-lhe um bocado de água e levo-o para o quarto para limpa-lo com uma esponja. A papa quando seca é terrível. Ele está todo divertido e se ele está, eu também estou. Não há bela sem senão. Devia ter desconfiado, até porque o cheiro não engana. Uma real cagada assenta na fralda. Devido às papas, apresenta-se sob a forma de uma massa consistente de cor acastanhada. Esta é sem dúvida das piores tarefas que me espera nestes 10 dias.

São 13.30 PM o calor está cada vez pior. Vou ver se o consigo pôr a dormir: Dava-me jeito, até porque ainda não almocei. Deito-o na cama e distribuo os bonecos à volta dele. Encontra-se todo suado, coitado. Faço da minha mão um leque e começo a abanar. Ele vira-se e agarra na chupeta. É bom sinal. Quando faz isto geralmente adormece. Continuo a abanar a mão. Um quarto de hora depois está a dormir. Os deuses estão do meu lado!

Preparo a minha refeição. Obrigado por terem inventado o micro-ondas. De repente oiço um choro. É ele. Deve ter caído a chupeta, espero eu. Chego ao quarto. O ar é quente. É o raio do calor. Dou-lhe a chupeta e abano-o mais um bocado, acaba por adormecer.

Esta soneca prolonga-se por uma hora. São 15.00 PM toca o telemóvel. É a mãe a avisar que vai chegar mais cedo. O puto deve estar a acordar. Dito e feito. Acorda a chorar. Sempre acordou a chorar. Vou busca-lo. Fico a brincar com ele até a mãe chegar. Esta é definitivamente a melhor parte do dia. Chegou a mãe. Por hoje já está.

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