segunda-feira, agosto 11, 2003

Crónica de um pai: dia 3

Dia 3. Hoje foi um dia atípico. Acordei tarde, faltavam 10 minutos para o meio-dia. Nem dei pelo bebé a reclamar pela sua hora de brincadeira. Têm toda a razão na reclamação. Pelo ar abafado da casa, noto que hoje vai ser um daqueles dias muito quentes. Nunca uma chuvada valente deve ter sido tão desejada por esse país fora!

Começo logo por preparar a papa. Seguindo a sugestão da mãe, hoje faço-a mais grossa. Ela diz que ele come melhor assim. Quando o vou buscar, ele encontra-se entretido a brincar. Como bonecos não lhe faltam, nem se lembra que tem de comer. Noto que a fralda tem cocó. Vou muda-la antes da refeição.
A fralda está cheia! É impressionante, a continuar assim, temos de usar o número da fralda superior. Ele está eléctrico, para não variar. Uso 4 toalhetes “Dodot” para o limpar todo. Gasto, provavelmente, o dobro que a mãe gasta para situações idênticas, mas também sou mais esquisito. Sempre fui assim, em termos de higiene. Limpo duas, três vezes, as que forem necessárias até ficar convencido que ficou tudo bem limpo.

Hoje resolvi experimentar dar-lhe de comer no meu colo. Com a mãe, funciona, mas ela também tem mais experiência. Ao princípio, as coisas parecem correr bem. Ele não é daqueles bebés de comer e chorar por mais, por isso dificilmente abre a boca. Tenho de forçar a entrada. A colher é de silicone, bastante maleável, portanto não o aleija.

A muito custo vai comendo. Já transpiramos os dois. Resolvo coloca-lo na cadeira para dar-lhe o resto da papa. O babete encontra-se completamente empapado. Num momento de distracção minha, ele aproveita para encostar o babete na cara. Poças! Ficou com a cara completamente pintada de amarelo da papa. Testa, olhos, nariz, bochechas, boca, queixo. Ele olha para mim e começa-se a rir. Limpar este quadro não vai ser fácil. As toalhas de papel voam a uma velocidade vertiginosa. Aliada aos toalhetes “dodot” devem ser dos produtos que mais se gasta cá em casa. Já são 13.15 e ainda falta um bom bocado no prato. Ele começa a dar sinais que está farto. Já não há chupeta nem bonecos que ajudem. Tenho de continuar a insistir. O desperdício já é superior ao que ele come. Termino a refeição. Ele deve-se aperceber. Faz um enorme sorriso.

14.45 dava-me jeito adormece-lo logo, pois ainda nem sequer tomei banho e tenho um almoço para fazer. O quarto dele está quente. Fico um bocado com ele e retiro-me discretamente. A meio do banho, oiço-o a chorar. É pior do que ficar sem gaz para aquecer a água. É que eu tomo banho de água fria. Tenho de acabar este relaxante banho rapidamente. Não há nada melhor do que a água fria a bater-nos no rosto em dias muito quentes. O choro aumenta de volume. Lá vou eu a pingar a casa! Não me parece que adormeça. Está completamente eléctrico. Mexe os braços e as pernas energicamente. O sono deve ter ido de férias!

Coloco-o no colchão de actividades enquanto visto uns calções. De seguida pego nele e levo-o para a sala para a espreguiçadeira e ligo a televisão. Dizem que a TV é a baby-sitter dos americanos e com razão. Ele fica completamente fixado nas imagens que passam no ecran. Almoço na companhia dele e das imagens da volta a Portugal em bicicleta.

São 15.30 volto a coloca-lo na cama dele. Demora a adormecer. Isto hoje está completamente fora da rotina. Adormeceu. Prometo não voltar a acordar tarde!

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